Pode o ensino ser visto como uma prática artística? Pode uma escola ser um objecto artístico participativo? Pode pensar-se num método/programa fluído, impermanente?
A escola vigente assenta numa ideia de sobrevivência. Buckminster Fuller afirmava no início da década de 70 que a humanidade gerava pela primeira vez um excedente. A abolição da escassez pelo engenho, conhecimento e tecnologia abriam assim a possibilidade de apaziguar uma luta civilizacional primordial. O ser humano já não teria que viver para a sua sobrevivência, produzindo desenfreadamente. A conquista da abundância permitiria que se operasse uma transformação na qual a sociedade não competiria mais entre si, ao invés—iria colaborar, partilhar e gerir/regenerar recursos.
ESCOLA PROVISÓRIA PARA NADA pretende pensar a escola, não como instituição mas como fundação, princípio primordial para a acção, para uma visão do mundo, para um viver em conjunto, como construção social ampla.
A escola que temos tende para a especialização funcional, para a separação entre a vida e o trabalho, entre a produção e o ócio.
A escola (do grego scholé, através do termo latino schola) tinha como significado, “discussão ou conferência”, mas também “folga ou ócio”. Este último significado, referia-se a um tempo ocioso onde seria possível ter “uma conversa interessante e educativa”.
A escola que imaginamos é uma escola de reforma, um lugar de revolução, de resistência, de participação, um exercício provisório, não eficaz, em transição, não fixo, para nada, não produtivo e de uso criativo do lazer através da prática artística e performativa. Uma escola que contrapõe o No-How, termo inicialmente usado por Beckett, ao Know-how instituído.
O No-How será aqui a ausência de um método fixo, de uma fórmula única aplicada a qualquer prática artística ou de conhecimento, é um “não-como”. O “como” será desconhecido à partida, assumindo formas provisórias. O “como” muda de papel, de função, de significado, pode até assumir vários simultâneos. É performativo. Não é passível de ser regulado, institucionalizado, quantificado, capitalizado. O no-how não é produtivo, não estabelece afinidades com a linha de montagem. Está em desacordo com a estandardização.
O conhecimento através da Arte, ao contrário da constância, estabilidade e equilíbrio presentes no Know-how, dá lugar ao atmosférico, ao indistinto, ao indizível e é no seu alcance performativo que reside a possibilidade do No-How pela Arte, na abertura multifacetada a que a mesma permite aceder.
O provisório é informal porque não se institui. São tentativas de pensar algo—notas, esboços, rascunhos, trapos—instantes quaisquer, é para nada.
Coloca-se a questão: porque é que tantos modelos educativos considerados utópicos ou revolucionários, tais como Bauhaus, Escola Oficina n.1, Atelier Livre, College of Black Mountain, modelos tendencialmente auto-organizados, com um certo grau de informalidade, apesar de darem provas de saltos revolucionários, de serem lugares de inovação e berços de descoberta e criatividade, não se tornaram vigentes, não se instituíram? Uma possível resposta talvez resida no facto de que desde o momento em que algo se institui ou se fixa, perde frescura, actualidade, decai e morre.
A actualidade e urgência do actual são sempre espaços provisórios, “espaços-quaisquer”.